Para compreender o movimento woke. 3. A luta por mais inclusão


«A maioria das preocupações que estão no topo da agenda dos ativistas pela justiça social são plausíveis e de grande importância: a discriminação de mulheres, imigrantes, pessoas com deficiência e pessoas em situação de pobreza é escandalosa e inaceitável. As sociedades modernas devem continuar a trabalhar para que esses problemas se tornem, em algum momento, coisas do passado. No enatnto, por vezes as prioridades morais desses ativistas são surpreendentes. O atual Manual de Diagnóstico e Estatística dasx Perturbações Mentais (DSM-V) estima que a prevalência da disforia de género - ou seja, o sentimento de que a identidade de género de uma pessoa (género) não coincide com o seu sexo fisicamenhte manifestado (sexo) - seja de 0,014 por cento da população. Todas as pessoas trans devem ter o direito de viver livremente e sem discriminação. No entanto, isso não muda o facto de que o problema de lidar com pessoas transgénero é, do ponto de vista da sociedade como um todo, relativamente raro. O fenómeno é simplesmente extremamente raro.
O pânico moral do lado oposto é ainda mais difícil de compreender. A disforia de género é um fenómeno raro, mas real. e simplesmente insistir que são unicamente as realidades biológicas que ditam quem é mulher e quem é homem não contribui em nada para compreender o fenómeno ou promover um tratamento social apropriado das pessoas trans. Ajuda fazer uma analogia com o estatuto legal dos pais adotivos: os pais adotivos são os verdadeiros pais dos seus filhos adotados, pelo que seria ofensivo, desrespeitoso e desnecessário realçar em todas as oportunidades que eles não são os "verdadeiros" pais em termos biológicos. Pode haver contextos em que esta nota se verifique, por exemplo, quando se trata de intervenções médicas, tais como a doação de órgãos ou o diagnóstico de doenças hereditárias. Mas a suspeita repetidamente expressa de que uma horda de homens trans sexualmente agressivos apenas está à espera de procurar vítimas indefesas nas casas de banho das senhoras, camuflados pela sua nova identidade (mesmo que isso aconteça, obviamente, em incidentes isolados), é ridícula e transfóbica. E uma coisa nunca deve ser subestimada: a ferramenta mais popular e eficaz no kit de ferramentas conservadoras tem sido sempre atiçar o medo das pessoas em relação ao novo e ao desconhecido, através de um alarmismo inteligente quanto a malfeitores sexualmente desviantes, com o objetivo de obter apoio para a sua própria política regressiva.»

Sauer, H. (2023). Moral. A invenção do bem e do mal (pp.258-259). Porto Salvo: Edições Saída de Emergência.

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