Para compreender o movimento Woke. 2. O fim do Ocidente?


«Os inimigos do wokeness cometem o erro - generalizado - de extrapolar até ao infinito as tendências existentes. Os efeitos provocados pelo projeto woke, na sua forma atual, (...) são quase sempre confundidos com a questão dos efeitos que este teria se fosse perseguido indefinidamente e implemenhtado sem lacunas. Independentemente de isso ser ou não algo positivo: não vai acontecer. O wokeness perdurará, mas apenas numa forma enfraquecida e domesticada; acabará por chegar uma altura em que se tornará endémico, mudando a sua forma durante essa mudança.

O fim do jogo será algo assim: em primeiro lugar, o wokeness será enfraquecido e absorvido pelo capitalismo e pela meritocracia - tal como os manifestantes do maio de 68 clamaram pelo fim do sistema, apenas para se tornarem cúmplices um tanto alternativos, o wokeness também encontrará o seu caminho para os conselhos de administração, editoras, estúdios de cinema e bastidores parlamentares, onde sobreviverá, mas também será neutralizado e despojado da suas expressões mais radicais. As elites, normalmente, encontram sempre uma via para assimilar osd movimentos sociais bem-sucedidos e acomodá-los aos seus próprios interesses. Por conseguinte, o temido/esperado fim do Ocidente não ocorrerá. Em vez disso, teremos mais mulheres em cargos de liderança e mais papéis de destaque para asiáticos e pessoas transgénero. São desenvolvimentos positivos que há muito deviam ter acontecido.

Em segundo lugar, o wokeness é um importante produto de exportação da cultura ocidental. Também a este respeito, os efeitos do politicamente correto serão, em grande parte, benéficos.No final de contas, não é assim tão decisivo que ideias radicais são defendidas nos seminários teóricos das universidades de Yale, Cambridge e Humboldt. Mas se o movimento woke contribuir para a reconciliação com o passado colonial belga e para o reforço dos direitos das mulheres nos países árabes, terá cumprido o seu propósito mais do que suficientemente.»

Sauer, H. (2023). Moral. A invenção do bem e do mal (pp.249-250). Porto Salvo: Edições Saída de Emergência.

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