A importância da ética da IA, já!
«A ética em geral e ética digital em particular não deveriam ser um mero acrescento, uma ideia tardia, um retardatário ou uma coruja de Minerva (para utilizar a célebre metáfora de Hegel sobre a filosofia) que só levante voo quando as sombras da noite se aproximam. Não deveria utilizar-se para intervir unicamente depois de se ter produzido uma inovação digital, depois de se ter aplicado possivelmente más soluções, depois de se terem escolhido alternativas menos boas ou depois de se terem cometido erros. Entre outras razões, porque alguns erros são irreversíveis, algumas oportunidades perdidas são irrecuperáveis e qualquer mal evitável que se produza é, em última análise, um desastre moral. A ética tão pouco deve ser um mero exercício de questionamento. A construção de uma consciência crítica é importante, mas também é apenas uma das quatro tarefas de um enfoque ético adequado do desenho e da governança do digital. As outras três são sinais de que os problemas éticos importam, comprometer-se com as partes interessadas afetadas por tais problemas éticos e, sobretudo, desenhar e aplicar soluções compartilháveis. Qualquer exercício ético que ao fim não proporcione nem aplique algumas recomendações aceitáveis não é mais que um tímido preâmbulo.
Assim, pois, a ética deve informar as estratégias de desenvolvimento e uso das tecnologias digitais desde o princípio, quando mudar o curso de ação é mais fácil e menos custoso em termos de recursos, impacto e oportunidades perdidas. (...) A miúdo, e especialmente nos debates sobre tecnologias, o desacordo ético não é sobre o que está bem ou mal. Pelo contrário, o desacordo é sobre até que ponto pode ou não ser assim, sobre porque é assim e sobre como garantir que o que está bem prevaleça sobre o que está mal.»
Floridi, L. (2024). La Ética de la Inteligência Artificial (pp. 200-2). Barcelona: Herder.
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