A facilidade do populismo
O populismo é normalmente entendido, em Ciência Política, como uma ideologia "fina", no sentido em que não dá resposta a um conjunto muito alargado de questões sociais, ao contrário de ideologias mais "espessas" como o conservadorismo, o liberalismo e o socialismo.
É possível apresentar um conjunto de características comuns aos vários populismos.
A primeira é a divisão entre "povo" e "elite", uma vez que o populismo concebe a sociedade como estando dividida entre o povo, que é supostamente "puro" e sábio na sua essência, e uma elite naturalmente corrupta, opulenta e opressora.
Depois, o populismo apresenta fequentemente uma liderança carismática, como a única voz legítima do povo, desprezando instituições intermediárias como os partidos, parlamentos ou os incómodos órgãos de comunicação social tradicionais.
Além disso, o populismo vive de um discurso simplificador, propondo soluções fáceis para problemas complexos, através de uma linguagem direta e emocional, cuja comunicação é altamente facilitada pelas redes sociais e o seu uso acrítico generalizado.
O populismo desconfia das instituições, atacando normalmente o poder judiciário, os órgãos de comunicação social tradicionais e outras instituições, acusando-as de estarem contra os interesses populares.
Finalmente, o populismo cava uma forte polarização na sociedade, incentivando um clima de "nós" contra "eles", baseado nos mais básicos estereótipos e preconceitos, com pouca margem para debate racional ou para o consenso.
O populismo pode aparecer combinado com qualquer uma das principais ideologias "espessas" - com o conservadorismo, o liberalismo ou o socialismo.
Fontes:
Eatwell, R., Goodwin, M. (2019). Populismo. A revolta contra a Democracia Liberal. Lisboa: Desassossego.
Stanley, J. (2019). Como Funciona o Fascismo. A política do nós e eles. Lisboa: Vogais.
Valentim, V. (2025). O Fim da Vergonha. Como a direita radical se normalizou. Lisboa: Gradiva.
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