Estratégias de ensino-aprendizagem baseadas na investigação



Nos últimos anos, tem-se instalado nas mentes dos professores e educadores o imperativo moral de garantir resultados mais equitativos para todos os alunos, bem como a respetiva necessidade de uma instrução de alta qualidade para fazer isso. Mas também têm aumentado as queixas dos professores pela falta de atenção dos alunos, o que aumenta a necessidade de tornar o que acontece na sala de aula ainda mais envolvente e relevante. Acresce o facto das turmas serem há muito, por vezes, multilíngues, étnica ou culturalmente diversas, com muitos alunos provenientes de famílias socioeconomicamente mais desfavorecidas ou com muitos alunos com baixo rendimento escolar anterior.

Ora, acontece que hoje os professores têm à sua disposição mais conhecimento científico sobre como os alunos aprendem e como apoiar a sua aprendizagem, através das descobertas das ciências cognitivas (neurociências e psicologia cognitiva), como nunca tiveram antes. Mas é preciso notar que a ciência da aprendizagem consiste em saber como é que, exatamente, os alunos convertem novas informações em memória de longo prazo (estudar para um teste é uma coisa; aprender pode ser outra!)

Eis algumas das principais estratégias, validadas cientificamente, mais eficazes para os alunos aprenderem. Afinal, «assim como a medicina ou a engenharia, o que fazemos como educadores é baseado na ciência real. Afinal, ensinar é como realizar uma cirurgia cerebral não invasiva em duas dúzias ou mais de pacientes ao mesmo tempo – o processo de religar o cérebro dos alunos para ajudá-los a desenvolver e reter novos conhecimentos e habilidades.» (Goodwin & Rouleau, 2023)

Como é que a aprendizagem ocorre?

Fase 1. Tornar-se interessado. A atenção é o primeiro passo, fundamental para aprender, pelo que o primeiro passo do professor é pensar como chamar a atenção dos seus alunos para o seu ensino.

Fase 2. Comprometer-se a aprender. O professor aqui terá de estabelecer objetivos/metas e monitorizar a aprendizagem do aluno, para que o aluno se comprometa, se envolva na aprendizagem. Sabemos hoje que atividades que proporcionem prazer aos alunos permitem uma mais eficaz aprendizagem. O que a pesquisa mostra é que um bom ensino não é aborrecido, pelo contrário: envolve os alunos em experiências de aprendizagem ricas, práticas e mentalmente desafiantes, que despertam a sua curiosidade, estimulam a sua imaginação e refletem os seus interesses - por exemplo, construir rampas de skate para compreender a física, relacionar a história com as suas vidas pessoais ou ver os seus próprios interesses ganharem vida em problemas de matemática. De facto, muitas das novas estratégias de ensino – como sugestões de interesse cognitivo para o aluno, estabelecimento de metas do aluno e investigações guiadas – aumentam o desempenho do aluno precisamente porque estimulam o envolvimento, a curiosidade e a alegria de aprender.

Fase 3. Concentração em novas aprendizagens. O professor terá de ensinar novos conceitos, novo vocabulário e apresentar imagens e exemplos concretos.

Fase 4. Dar sentido ao aprendido / aprendizagem significativa. O professor deve formular perguntas de alto nível (colocar problemas desafiantes), ouvir as explicações dos alunos, aplicar feedback formativo para orientar o aluno na aprendizagem e permitir a consolidação da aprendizagem com a ajuda dos colegas (trabalho de pares ou de grupo).

Fase 5. Praticar e refletir. O professor deve possibilitar a prática de recuperação da informação (uma das melhores maneiras de ajudar os alunos a reter as novas aprendizagens é questioná-los com frequência, conhecida como a prática de recuperação); a prática espaçada e diversificada; e o apoio direcionado.

Fase 6. Transferir e aplicar. O professor deve proporcionar escrita cognitiva, investigações guiadas e resolução estruturada de problemas.

As 4 estratégias de aprendizagem mais poderosas, segundo a investigação

1.     Metacognição e auto-regulação. A estratégia com maior impacto académico é a metacognição e autorregulação do aluno: envolve ensinar os alunos a planear, monitorizar e avaliar a sua aprendizagem – ajudando-os a ter consciência dos seus próprios pontos fortes e fracos, ao mesmo tempo que obtêm uma compreensão mais profunda de quais estratégias de aprendizagem são mais adequadas para uma determinada tarefa. Para maximizar os benefícios das estratégias metacognitivas, os professores devem modelar os seus próprios processos de pensamento – por exemplo, eles podem explicar aos alunos como pensam ao ler um texto ou resolver um problema. Os professores também podem incentivar os alunos a colocarem perguntas a si mesmos, como “O que achei difícil nesta lição?” e “O que posso fazer se ficar preso num problema?”, para ajudar a revelar lacunas na sua compreensão e fazer bom uso dos recursos educacionais. O professor também pode questionar os alunos sobre os seus planos de estudo para um próximo teste; pedir-lhes que discutam, avaliem e testem ideias e métodos diferentes dos seus; e compartilhem ferramentas e estratégias para ajudá-los a avaliar a sua própria aprendizagem.

2.     Estratégias de compreensão de leitura. É fundamental que alunos de todas as faixas etárias aprendam estratégias de leitura ativa, como inferir o significado a partir do contexto, resumir pontos-chave, usar organizadores gráficos e interrogar os textos ativamente, formulando questões e respondendo-lhes durante a leitura. As investigações concluem que estas estratégias têm um impacto muito alto na eficácia da aprendizagem, com um custo muito baixo e com base em evidências extensas: as atividades de compreensão de leitura fazem avançar a aprendizagem do aluno em uma média de seis meses, tornando-o um componente crucial do ensino da leitura precoce.

3.     Intervenções orais. Um dos métodos mais eficazes para reforçar a aprendizagem é usar explicitamente técnicas de questionamento estruturado e discussões para encorajar os alunos a articular o que sabem. As atividades podem incluir ler livros em voz alta, conversar sobre um tópico, rever listas de vocabulário e de conceitos e fazer perguntas que ajudem os alunos a aprofundar um tópico. Os alunos podem usar uma lista de verificação para identificar elementos-chave nas discussões em sala de aula ou podem praticar as suas habilidades de falar em público em frente de uma plateia. A investigação mostra que as intervenções orais são uma estratégia de baixo custo e baseada em evidências, que aumenta a aprendizagem uma média de seis meses.

4.     Aprendizagem colaborativa. Pedir aos alunos que trabalhem juntos em pequenos grupos tem um impacto positivo na aprendizagem. No entanto, deve-se evitar o trabalho em grupo não estruturado – os professores devem intervir e projetar cuidadosamente atividades que sejam desafiadoras e robustas o suficiente para exceder as capacidades de um único aluno. As abordagens de aprendizagem colaborativa mais promissoras tendem a ter tamanhos de grupo entre 3 e 5 alunos, com objetivos bem definidos e com apresentação compartilhada com os outros grupos.

O que se pensa que funciona, mas não funciona tão bem, segundo a investigação

1.     Ampliação do horário escolar. Aumentar o tempo que os alunos gastam em atividades académicas durante a escola melhora os resultados – um aumento modesto de três meses de aprendizado adicional ao longo de um ano letivo –, mas pode frustrar os professores, aumentando drasticamente a carga de trabalho e potencialmente prejudicando o seu bem-estar. Há também um custo de oportunidade significativo: aumentar o tempo académico pode prejudicar o tempo gasto em desenvolvimento profissional, planeamento de aulas e outras tarefas cruciais, diminuindo a qualidade geral do ensino.

2.     Tutoria individual. Emparelhar um aluno com um tutor acelera cerca de cinco meses a aprendizagem, em média, fazendo com que pareça uma estratégia altamente eficaz, no entanto, com ressalvas notáveis. A abordagem é cara, especialmente quando realizada por professores, e a pesquisa está repleta de estudos que carecem de supervisão independente de terceiros, questionando a eficácia da estratégia. Em vez disso, duas estratégias semelhantes devem ser usadas: tutoria em pequenos grupos e tutoria entre pares, ambas as quais produzem resultados académicos quase semelhantes por uma fração do custo. Na sala de aula, a tutoria entre pares pode até ser preferível, uma vez que os alunos assumem a responsabilidade pelos aspetos do ensino e pela avaliação de seu sucesso – dando-lhes o impulso metacognitivo que aprofunda a aprendizagem. A tutoria entre pares é altamente eficaz quando usada para rever ou consolidar o aprendido, em vez de introduzir novos materiais. Use rubricas para orientar o feedback dos colegas e garantir que ele permaneça produtivo. Por fim, uma das melhores maneiras de aprender sobre um tópico é o aluno assumir a responsabilidade e ensiná-lo a outra pessoa.

O que não funciona ou o que, para funcionar, exige muito cuidado

1.     Repetir um ano. A retenção acarreta um custo imenso e é um risco significativo do qual poucos se recuperam, causando uma série de problemas, como baixa autoestima e apatia em relação à escola. Em média, esses alunos perdem três meses de progresso académico em comparação com os seus colegas que seguem em frente, mesmo após completarem um ano adicional de escolaridade.

2.     Estilos de aprendizagem. A utilização de estilos de aprendizagem como rótulos sobre a forma específica como o aluno aprende é altamente prejudicial. Cada aluno aprende de maneiras diferentes, mas os sistemas sensoriais trabalham juntos – não independentemente – quando a informação está a ser processada. A investigação mostra que rótulos como, por exemplo, “pensador visual” podem desencorajar os alunos a explorar outras formas de pensar sobre uma ideia. Em vez disso, deve usar-se uma abordagem multimodal: pedir aos alunos que usem uma variedade de métodos, desde desenhar até conceitos em ação ou escrever músicas, para aprender sobre um tópico – a pesquisa mostra que isso levará a uma aprendizagem mais duradoura e robusta.

Referências:

Goodwin, B. & Rouleau, K. (2023). A New Destillation of What Works in Classroom Instruction. In ASCD/blog, 11 jan, https://www.ascd.org/blogs/a-new-distillation-of-what-works-in-classroom-instruction

Terada, Y. (2023). A research-backed tool kit of what works – and doesn’t work – in education. In Edutopia, 13 jan, https://www.edutopia.org/article/research-backed-tools-what-works-in-education?fbclid=IwAR1OoATgp7VGhbP9hV_y2ohkq7gHaBosGo2VGsxVzct4FjjDAsDEE116jH8

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