A caminho da igualdade
«(...) até ao início do século XX, não existia verdadeiramente classe média, no sentido em que os 40% compreendidos entre os 50% mais pobres e os 10 % mais ricos eram quase tão pobres (em termos de parte na propriedade total) como os 50% mais pobres. Pelo contrátio, no final do século XX e começo do século XXI, a classe média patrimonial é constituída por pessoas que, é certo, não são imensamente ricas no plano individual, mas estão longe de serem totalmentge pobres (detêm, grosso modo, entre 100 000 e 400 000 euros de património por adulto), e que, em termos coletivos, detêm uma parte não dispicienda do património total: cerca de 40%, isto é, cerca de duas vezes mais do que o 1% mais rico (24% do total), enquanto nas vésperas da Primeira Guerra Mundial detinham entre três e quatro vezes menos (13% contra 55%). Em resumo: as classes médias, são, em termos coletivos, duas vezes mais ricas, hoje em dia, do que as classes dominantes, quando há um século eram três vezes mais pobres. (...)
Esta redução das desigualdades é, em parte, uma consequência das guerras e das crises económicas, mas provém também e sobretudo das novas políticas sociais e fiscais postas em prática a partir de finais do século XIX e ao longo do século XX: a ascensão do Estado social, a implementação de uma certa igualdade de acesso a bens fundamentais como a educação e a saúde, a criação de um imposto fortemente progressivo sobre os altos rendimentos e patrimónios. (...) esta caminhada (limitada) para a igualdade foi benéfica sob todos os pontos de vista, incluindo, é claro, em termos de eficácia produtiva e prosperidade coletiva, porque permitiu uma maior participação de todas e todos na vida social e económica.»
Piketty, Th. (2022). Uma Breve História da Igualdade (pp. 66-7). Lisboa: Temas e Debates.
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