Desigualdades no mundo… e também na Europa!

«É essencial, que a política volte a controlar a economia e o sistema financeiro, não sendo o Estado necessariamente um ator direto, mas sim como legislador esclarecido, regulador atento e fiscal implacável.

(…) Nos EUA, em 1980, os 1% mais ricos, detinham 10% da riqueza nacional. Agora controlam 20%! A nível planetário, em 20 anos, os 1% mais ricos aumentaram em 60% o seu rendimento. Uma das técnicas usadas, para além da venalidade de políticos e funcionários, é a fuga organizada ao fisco. Em 2010 calcula-se que a fuga para paraísos fiscais por parte de grandes fortunas individuais atingiu o montante astronómico de 32 biliões de dólares (mais do que a soma do PIB conjunto dos EUA e do Japão)! Em 2011, as operações da “banca sombra”, uma rede de instituições que realiza operações bancárias sem se sujeitar à regulação estadual, totalizou 67 biliões de dólares, ou seja, 111% do PIB planetário desse ano. Na China, os 10% mais ricos controlam 60% da riqueza nacional. (…)

(…) Na Áustria, os 5% mais ricos controlam 50% da riqueza e os 50% mais pobres apenas 4%. Na Alemanha a desigualdade subiu ainda mais entre 1998 e 2008. Os 50% mais pobres que detinham 4% do rendimento nacional estão agora reduzidos a 1%. Os 10% mais ricos, que detinham 45%, possuem agora 53% da riqueza nacional. Esta situação de injustiça económica é intensificada nos países que foram, objeto de “programas de ajustamento”, elaborados pela “troika”. Nestes casos podemos falar de uma verdadeira destruição social da Europa que avançou com uma rapidez que surpreendeu os mais atentos observadores. A Grécia, neste momento, encontra-se em estado de choque, com o seu PIB a cair nos últimos 8 anos, mais de 28%. (…) O desemprego ultrapassou a barreira dos 25%, sendo superior a 50% se nos ativermos à população jovem. Na Roménia, se somarmos todos os níveis de pobreza, 40% da população vive com severas carências e dificuldades. Em Espanha, para além da escalada do desemprego, o segundo maior de toda a União, já três milhões de espanhóis têm de receber apoio alimentar das mais diversas ONG. Em Portugal, de acordo com dados do INE de 2014, relativos a 2012-13, registava-se 18,7% da população vivendo abaixo do limiar da pobreza, mas 46,7% da população corre um sério risco de nela tombar. Não admira que o diretor do Comité Internacional da Cruz Vermelha, Yves Daccord, tenha dito em 2013 que o nível de ajuda alimentar atual só é comparável com os dias posteriores à II Guerra Mundial. Esta situação de calamidade social agravou-se em 2015, também por fatores “externos”, como é o caso do afluxo tumultuoso e desregulado de mais de um milhão de refugiados, escapando de zonas devastadas pela guerra, como a Síria e a Líbia.»


Viriato Soromenho Marques, “A segunda crise global da democracia representativa. Uma perspetiva europeia”, in Revista Portuguesa de Filosofia, 2016, vol. 72(4), pp. 883-4.

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