Exames – o teimoso anacronismo contraditório! A propósito de um ensaio de Alexandre Homem Cristo no Observador
É verdade que os exames testam sobretudo a memória (por
muito importante que isso seja, há outros instrumentos adequados para o fazer),
não medem eficazmente (com discrepâncias gritantes, como demonstra A. H. Cristo)
aquilo que se propõem medir e o acesso ao ensino superior está a estrangular os
exames e o ensino secundário. A. H. Cristo, em Os três problemas dos exames nacionais, socorre-se das inúmeras organizações
internacionais na área da educação que justamente o afirmam.
É, no entanto, pena que o articulista não se socorra de
conhecimento construído e consensualizado pelas Ciências da Educação, da própria Docimologia às Ciências da Cognição e Neurociências, que têm mostrado estas e outras falhas
daqueles que pareciam (as aparências iludem!) incontestáveis e altamente eficazes
instrumentos de avaliação de aprendizagens socialmente requeridas, usados e
acreditados um pouco por todas as escolas desse mundo fora!
Já sabemos que os exames não só não são esse instrumento
objetivo de medida das aprendizagens, como sabemos com suficiente segurança que
estão a constituir-se como um dos principais obstáculos impeditivos das aprendizagens
requeridas pelo mundo da vida de hoje e, conjuntamente com muitos testes de
avaliação sumativa e toda a organização escolar e gestão curricular, poderão
estar igualmente a afastar, fundadamente, os jovens da escola e do tesouro que
esta, ainda tem, e talvez cada vez mais necessário, para lhes entregar - que é o conhecimento em uso.
É por isso que a proposta de solução de A. H. Cristo não é
consistente com os dados e conhecimentos que temos hoje sobre os exames, nem mesmo com a sua própria argumentação. Substituir
“estes” exames por outros “mais adequados” às aprendizagens que se pretende (é
a sua tese), não basta. É necessário ser argumentativa e logicamente consequente
e afirmar que, com o conhecimento que, com suficiente segurança, hoje temos, já deveríamos ter
substituído este anacrónico e obstaculizante instrumento de avaliação das
aprendizagens (apenas algumas, nem sequer as mais importantes!), por um sistema
de efetiva avaliação para a aprendizagem e como aprendizagem.
A nobre e altamente desejável finalidade última da escola é
orientar o desenvolvimento das múltiplas potencialidades de seres humanos
adaptados ao mundo de hoje e não certamente domesticar, por vezes com um certo grau de violência, papagaios acríticos!
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