Kant e a "baleia azul"?
À
partida, parece não haver qualquer relação séria entre o filósofo de Königsberg e essa fatídica expressão dos nossos tempos! Mas há: mesmo que o dito “jogo”
da baleia azul não constituísse, como constitui, um apelo ao suicídio, é sempre necessário perguntar: será o suicídio, em alguma circunstância, eticamente permissível? Immanuel Kant (1724-1804) ajuda-nos a pensar esta questão, aliás pertinente também no que respeita à questão da eutanásia:
«Segundo
o conceito de dever necessário para consigo mesmo, o homem que anda pensando em
suicidar-se perguntará a si mesmo se a sua ação pode estar de acordo com a
ideia de humanidade como
fim em si. Se, para escapar à situação
penosa, se destrói a si mesmo, serve-se ele de uma pessoa como de um simples
meio para conservar até ao fim da vida
uma situação suportável. Mas o homem não é uma coisa; não é portanto um objeto
que possa ser utilizado simplesmente como um meio, mas pelo contrário
deve ser considerado sempre em todas as suas ações como fim em si mesmo.
Portanto, não posso dispor do homem na minha pessoa para o mutilar, o degradar
ou o matar.»
Immanuel Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, trad. port. Paulo Quintela, Ed. 70 (Lisboa, 1992), pp. 69-70.
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