Comunicar é ordenar!

As palavras são mots d’ordre – esta é a tese de Gilles Deleuze e Félix Guattari, segundo a qual a linguagem tem, principalmente, não a função de informar e comunicar, mas sobretudo a função de ordenar. É um fenómeno claramente visível na política, na publicidade ou até mesmo nos media, quando a “informação”, encenada de modo adequado, nos manda sentir, opinar e mesmo agir irrefletidamente! Mas também se encontra presente, segundo aqueles autores, na educação – fenómeno indesejável, que todos os educadores deveriam minimizar (pelo menos, consciencializar!):

«A mestre-escola não se informa quando interroga um aluno nem informa quando ensina uma regra de gramática ou de cálculo. Ela “ensigna”, dá ordens, comanda. (…) A máquina do ensino obrigatório não comunica informações, mas impõe à criança coordenadas semióticas com todas as bases duais da gramática (masculino-feminino, singular-plural, substantivo-verbo, sujeito do enunciado-sujeito da enunciação, etc.). A unidade elementar da linguagem – o enunciado – é a palavra de ordem. (…)

As palavras não são utensílios; mas dá-se às crianças linguagem, canetas e cadernos, como damos pás e picaretas aos operários. Uma regra de gramática é um marcador de poder, antes de ser um marcador sintático. (…) A informação apenas é o mínimo estritamente necessário à emissão, transmissão e observação de ordens enquanto comandos. (…)

O que é difícil é precisar o estatuto e a extensão da palavra de ordem. (…)»

Deleuze, G. & Gauttari, F. (1980). Capitalisme et Schizophrénie. 2 – Mille Plateaux (pp. 95, 96, 97). Paris: Les Éditions de Minuit.

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