O ressentimento como causa endémica do terrorismo!
«2004. Atentados em
Madrid, reivindicados pela Al-Qaeda. Por que razão é a Espanha um alvo?
Porque o seu governo enviou tropas para o Iraque? Mas não foi o único da
Europa. Porque existe um contencioso colonial entre Marrocos e Espanha? Claro
que não seria um acaso se houvesse marroquinos a fomentar ou a supervisionar
este atentado.
Mas há outra coisa, uma ferida mais profunda de que a
memória do Islão guarda vestígios. Ayman Al Zawahiri, lugar-tenente e médico
pessoal de Bin Laden, recordou-a na sua primeira intervenção, no dia seguinte
ao ataque ao World Trade Center, em 2001: a humilhação de que o Islão foi
vítima remonta à expulsão dos mouros de Espanha, em 1492.
Ora, esta humilhação, celebram-nas os espanhóis do Levante,
de Barcelona a Málaga, numas mascaradas denominadas “Moros i cristianos”. Em
Molzivar, por exemplo, os habitantes dividem-se em dois campos, uns vestidos de
mouros, outros de espanhóis de antigamente. Cinco quadros vivos evocam a
conquista árabe, a ocupação, a resistência, a revolta e a expulsão do invasor.
Os insultos e as invectivas que uns dirigem aos outros em cada um destes
episódios estão guardados na memória.
(…)
Portanto, aumenta constantemente a carga deste explosivo, o
ressentimento: nos quatro cantos do século, por várias vezes esteve a pontos de
estoirar a sociedade, de qualquer modo transfigurou-a. Como os vírus que
julgamos mortos quando estão apenas adormecidos, o ressentimento, subitamente
reativado, ganha vida para surpresa daqueles que nem sequer suspeitavam da sua
existência.»
Marc Ferro (2009). O
Ressentimento na História. Compreedner o nosso tempo (pp. 5-6). Lisboa:
Editoria Teorema.
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