Neoliberalismo – uma síntese crítica para refletir
«O termo “neoliberal” generalizou-se nos anos 1990,
geralmente com uma conotação negativa. Com efeito, o neoliberalismo
apresenta-se como ideologia económica do “mundo livre”, do progresso social
através da liberalização da economia, vantajosa para todos e para a democracia.
A sua causa não é, todavia, o valor da liberdade das pessoas mas sim a
liberdade de circulação de mercadorias, capitais e serviços. O seu mundo é um
mercado sem fronteiras nem escrúpulos, nem sentido de Bem Comum, implicando a
submissão e enfraquecimento dos Estados e a instrumentalização das pessoas
reduzidas à condição de mão-de-obra e de consumidores, cuja utilidade conta
mais do que a sua dignidade. É verdade que o PIB (Produto Interno Bruto)
mundial se multiplicou por nove na segunda metade do séc. XX, mas nas duas
últimas décadas o crescimento global diminuiu e a desigualdade e a pobreza
extrema aumentaram. A eficácia produtiva do neoliberalismo é uma brutalidade opressora
dos seres humanos e destruidora da natureza. É uma ditadura da hidra do lucro,
favorecendo os interesses do capitalismo mundial em prejuízo dos trabalhadores
e trabalhadoras, da população em geral, da cidadania e do meio ambiente.
O neoliberalismo é, portanto, um fundamentalismo
economicista segundo o qual uma ditadura pode ser economicamente mais eficaz do
que uma democracia. A sua lógica coisificante
dos seres humanos é potencialmente tão bárbara como o biologismo nazi. “Capital
humano” é, de resto, uma expressão com uma lúgubre ressonância nazi e
estalinista.
Em síntese: A ideologia neoliberal absolutiza a economia e
relativiza a política, a dignidade humana, a justiça social e a
responsabilidade ecológica, gerando um círculo vicioso de miséria, insegurança,
revolta, violências, catástrofes. É uma religião
do mercado cujo dogma é a competitividade
e cuja virtude é o lucro.
No entanto, as crises que geraram a turbulência do sistema
financeiro mundial nos últimos anos da década de 1990 e em anos mais recentes
abalaram o credo neoliberal.
Redescobre-se a importância dos valores culturais, dos bens sociais e das
funções do Estado.
(…)
A alternativa à Globalização neoliberal dominante passa pelo
primado do Direito, nomeadamente dos direitos humanos, e da Política,
designadamente do Estado de Direito, sobre a economia e os interesses privados.
(…)»
Reis Monteiro, A. (2017).
Uma Teoria da Educação (pp. 262-3). Lisboa: Edições Piaget.
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