Reforçar a profissão docente
A propósito do Dia Mundial do Professor, que hoje se comemora e que foi criado pela UNESCO em 1994
com o objetivo de chamar a atenção para o papel fundamental que os professores
têm na sociedade e na educação das pessoas, fica a reflexão de A. Reis
Monteiro, especialista em Direito Internacional da Educação:
«Na maior parte dos países do mundo, o
mínimo que se pode dizer sobre o estado da profissão docente é isto: é uma
profissão des-cuidada. É descuidada
quando não cuidam dela nem ela cuida de si. Não cuida de si quando as
professoras e os professores não são os melhores advogados da sua causa e
quando têm uma consciência, atitudes e comportamentos pouco profissionais.
Um flagrante sintoma do descuido da profissão é o facto de, apesar
de poder ser considerado como a mais ética das profissões, não tem, na maioria
dos países do mundo, uma Deontologia ou Ética Profissional. A Deontologia é a alma do profissionalismo. Exprime a
quinta-essência de uma cultura profissional. Um elevado perfil deontológico
afirma a identidade e cultiva a dignidade, honra e prestígio de uma profissão. Se
uma profissão proclama publicamente a sua Deontologia e o público sabe que pode
queixar-se de profissionais que não respeitem os seus deveres deontológicos,
isso aumenta a confiança social na profissão, que é o seu maior bem. E quem
melhor que as professoras e os professores deve saber e mais interesse deve ter
em cuidar do Valor e dos Valores da sua profissão?
A autorregulação da profissão docente é uma insígnia de profissionalidade. É tão legítima, possível e vantajosa
para todas as partes como noutros campos profissionais comparáveis. A profissão
docente tem, hoje, uma identidade, uma autoridade e uma responsabilidade que
transcendem o quadro de dependência e obediência em que é tradicionalmente
exercida, justificando o reconhecimento da sua autonomia como profissão e maior
autonomia para os seus profissionais, se forem selecionados e formados com a exigência
que a responsabilidade requer, que é a responsabilidade pelo bem mais valioso –
depois da vida – para cada ser humano, qualquer sociedade e toda a Humanidade:
a sua educação. Com efeito:
- A educação já não é um direito dos pais e mães sobre os filhos
ou filhas, nem dos Estados sobre os cidadãos e as cidadãs. É um direito humano
que responsabiliza diretamente os profissionais da educação, que não ficam
desobrigados das suas responsabilidades quando pais, mães ou o Estado falham
nas suas.
- Há uma base de saberes sobre o fenómeno educacional cada vez
mais ampla que, se forem introduzidos na formação de professores e professoras,
lhes conferem uma autoridade profissional que devem cultivar e na qual os
estudantes, as famílias e os governos devem confiar.»
Reis Monteiro, A. (2017). Uma Teoria da Educação (p. 322). Lisboa:
Instituto Piaget.
Os professores são indubitavelmente responsáveis pelo futuro da humanidade. Somos nós que diariamente, não apenas contribuímos, para a aquisição de um conjunto de competências necessárias em termos de saberes que os nossos jovens necessitam, para viver e sobreviver em sociedade, mas sobretudo, somos nós, que "mostramos", vários possíveis caminhos, para que os nossos alunos se tornem verdadeiramente "humanos". Sem dúvida, que cabe à família escolher os valores que consideram mais relevantes para os seus filhos. Contudo, a família é condição necessária, mas não suficiente, na educação integral e plena. Os professores e a família em conjunto, talvez já sejam, uma condição suficiente. Isto porque, nem sempre, as famílias estão totalmente capacitadas, por um conjunto de circunstâncias diversas e muitas incontornáveis e indesejáveis. Além disso, os nossos jovens passam grande parte do dia na escola, local privilegiado de socialização. Mas, o mais importante é que "educar" (conduzir os jovens para fora de si mesmos, no sentido da compreensão de "diferentes mundos"), faz parte essencial de quem é professor, tal como, um médico, segundo, o "juramento de Hipócrates", jamais mataria, ou mesmo prejudicaria um doente, devendo praticar honestamente a sua atividade. É realmente importante, a existência explicita e objetiva de uma deontologia, para a classe profissional de professor, tal como existe para outras profissões. Ainda mais, que ser-se professor não exige apenas o cumprimento de certos deveres. Implica, a simples gratuitidade em "amar" os nossos alunos.
ResponderEliminarConcordo plenamente, minha cara Lígia. Mas sublinho a importãâcia da ambição da (re)qualificação formativa, sempre em marcha, da profissionalidade da docência (ser professor é ser um eterno aprendente) e do profissionalismo dos docentes, sob pena de nos afastarmos desse dever de fazer cumprir um dos maiores direitos humanos, que é o direito à educação, e que é a coluna vertebral do nosso múnus!
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