O que é ser professor/a? Ou porque são os professores merecedores de tão elevado reconhecimento público como outros profissionais tradicionalmente de maior estatuto social!

«(…) A determinação do conteúdo identitário da profissão docente deve consistir em identificar o que deve distinguir as professoras e os professores, como profissionais, das mães e pais e de outros profissionais com formação nas mesmas áreas disciplinares. Penso que a identificação da sua distinção resultará das respostas a três interrogações principais:

- Em que consiste o fenómeno educacional?
- Por que é que são necessárias profissões da educação?
- Que saberes, valores e qualidades devem distinguir os profissionais da educação?

As minhas respostas, sumariamente expostas, são as seguintes:

A educação é um fenómeno de comunicação, uma forma de poder e um direito humano. A educação é um poder de comunicação exercido pelas gerações mais velhas sobre as novas gerações que pode ser considerado como o maior poder e a maior responsabilidade do mundo. A educação é um direito humano que os Estados Partes do Direito Internacional da Educação se obrigam a respeitar, proteger e realizar através de medidas legislativas, políticas e outras.

São necessárias profissões da educação porque: mães e pais precisam de quem cuide dos filhos e filhas quando não podem fazê-lo e também não podem proporcionar-lhes em casa todas as possibilidades de educação; a educação é um bem público, porque as sociedades precisam que os seus membros aprendam valores comuns e saberes fundamentais e outros indispensáveis à subsistência e bem-estar individuais e coletivos.

Para corresponder a estas necessidades, espera-se que os profissionais da educação: porque trabalham com seres humanos mais vulneráveis, quando se trata de crianças e adolescentes, sejam pessoas que, antes de mais, não lhes façam mal (Primum non nocere); e lhes façam o maior bem possível, através do cuidado pela sua segurança e bem-estar, do exemplo que são como seres humanos e da competência que têm como especialistas das diferentes aprendizagens.

Sendo assim:
- A profissão docente distingue-se por ser sobretudo uma profissão de comunicação para suscitar aprendizagens diversas.
- Os conteúdos e métodos da comunicação pedagógica devem ter como princípio de legitimidade e critério de qualidade a normatividade do direito à educação.

Em consequência, as professoras e professores devem considerar-se e ser considerados como profissionais do direito à educação e da comunicação pedagógica, cujo profissionalismo deve ter como centro de gravidade a sua personalidade.

A identidade da profissão docente não está, portanto, verdadeiramente, no “saber a ensinar”, nem somente no “saber como ensinar”. Ser professor ou professora é um saber-ser-e-comunicar-pedagogicamente. No seu profissionalismo não está em jogo apenas o que devem saber e ser capazes de fazer (what they are expected to know and be able to do, como se lê na literatura anglófona pertinente), mas também que pessoas devem ser (what persons they should be), não só para fazer bem o que fazem (to do things right), mas também para fazerem o que devem fazer (to do the right things).»

Reis Monteiro, A. (2017). Uma Teoria da Educação (pp. 300-301). Lisboa: Edições Piaget.

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