Os benefícios da leitura por prazer

«A aquisição da leitura abre um novo patamar de empoderamento do cérebro, onde o gosto de ler pode ser um fator impulsionador deste processo. Um estudo longitudinal demonstrou que a leitura por prazer aumenta a taxa de aprendizagem das crianças com benefícios também na aprendizagem da matemática. Através do 1970 British Cohort Study (BCS70), promovido pelo Economic and Social Research Council, é possível acompanhar as vidas de 17 mil indivíduos nascidos numa única semana em 1970 na Inglaterra, Escócia e País de Gales. Desde o nascimento, estes sujeitos foram entrevistados até ao momento oito vezes (aos 5, 10, 16, 26, 30, 34, 38 e 42 anos) para rastrear diferentes aspetos, desde a saúde física e mental, desenvolvimento cognitivo e social e circunstâncias económicas. Dos 17 mil participantes, 6000 realizaram uma bateria de testes cognitivos aos 16 anos de idade. Foi feita uma comparação entre as crianças dos mesmos contextos sociais que alcançaram resultados semelhantes aos 5 e 10 anos e verificou-se que aqueles que liam frequentemente livros aos 10 anos e mais de uma vez por semana aos 16 anos tinham resultados mais elevados do que aqueles que liam menos. Nos casos analisados, a leitura por prazer estava, assim, ligada a um maior progresso cognitivo, com bons desempenhos no vocabulário, ortografia e matemática. Na verdade, o impacto foi cerca de quatro vezes maior do que ter um pai/mãe licenciado.

A leitura confronta as crianças com novas palavras, o que nos permite concluir que a leitura por prazer promove o desenvolvimento do vocabulário. Mas a ligação entre a leitura por divertimento e o progresso na matemática pode ser mais surpreendente. Com estes dados sugere-se que a leitura também introduz novas ideias às crianças e aos jovens. Além de aumentar o vocabulário, ajuda-os a compreender e a absorver novas informações e conceitos aprendidos na escola. Assim, a leitura independente pode promover uma abordagem mais autossuficente para a aprendizagem em geral. Para além do mais, a capacidade de leitura ajuda também a desenvolver partes do cérebro que são essenciais para a escuta e a observação. Parece então que um simples livro pode trazer consigo um pacote completo de estímulos para especializar o cérebro.

Atualmente, os pais estão preocupados por os jovens de hoje lerem menos no seu tempo livre do que as gerações anteriores. Isto causa apreensão porque, de acordo com esta investigação britânica, parece que poucos hábitos de leitura são suscetíveis de afetar negativamente o desenvolvimento cognitivo dos jovens. Sabemos que a leitura por prazer tende a diminuir na adolescência e os resultados deste estudo enfatizam também o quão importante é para as escolas e bibliotecas dar fácil acesso a uma vasta gama de livros, bem como ajudar os jovens a descobrir os autores de que irão desfrutar.»

Rato, J. & Castro Caldas, A. (2017). Quando o Cérebro do seu Filho vai à Escola (pp. 97-98). Lisboa: Verso de Kapa.

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