Testes e stress ou como (não) aprender!

Numa aula de Português, numa das melhores turmas do 7º ano de uma certa escola…:

Profª – Quem trouxe a ficha de trabalho?

Apenas três alunos tinham trazido.

Profª – Ando eu aqui a gastar papel para vocês não trazerem a ficha…! Não vou fazer mais fichas. Para o teste vou dar tudo até terça-feira e não vou tirar dúvidas. Vou fazer um teste difícil para que a nota máxima seja um 3. Os meus alunos antes do teste tinham pesadelos, vomitavam, mas eu até gosto!

Ora, vejamos o que nos diz a atual investigação em Neurociências sobre isto:

«Tradicionalmente, os professores usam os testes de avaliação para determinar quem aprendeu o que foi ensinado e quem não o fez. Os professores fazem recurso a várias avaliações para lançar notas para justificar a conclusão da disciplina e as passagens de ano escolar. Mas também há os que usam as notas como arma para recompensar e punir estudantes. O cérebro jovem internaliza as imagens negativas oriundas do fracasso numa avaliação e, para alguns alunos, isto significa que não são suficientemente bons. Os atuais usos da avaliação não nos parecem favoráveis ao cérebro e também não parecem trazer grandes benefícios, tanto para professores como para alunos. Considerando o peso que se dá ao teste, este cria inevitavelmente stress porque os alunos se sentem julgados. (…) O stress produz cortisol no cérebro, que faz concentrar a preocupação com a pontuação do teste em vez do conteúdo do teste. É por isso que o desempenho de um aluno num teste é muitas vezes menor do que seria sem o stress a que está associado. Para além disso, os testes cronometrados também desencadeiam grande ansiedade para muitos estudantes. Os níveis de cortisol resultantes geralmente interferem na capacidade do aluno de organizar o que escreve ou de realizar operações matemáticas. Embora a solução não seja dar aos alunos tempo ilimitado, ter os alunos a responder a perguntas rapidamente contradiz o que sabemos sobre como os sistemas de memória são ativados. Os sistemas de memória de alguns alunos estão mais bem organizados do que os de outros e podem responder mais rapidamente, mas isso não significa que saibam melhor a resposta correta.

Se o objetivo da avaliação é determinar o que um aluno sabe, então não podemos obter informações precisas de um aluno com uma avaliação inserida na rotina diária e mais prolongada no tempo? É possível tornar as avaliações em avaliações formativas e capazes de medir com maior precisão o que devem medir, para que os alunos possam demonstrar o que sabem. Temos de proporcionar avaliações sem o peso do momento único ou a conotação do “tudo ou nada” e que ajudem os alunos a prepararem-se para obter sucesso, fornecendo-lhes feedback oportuno. Este tipo de avaliações pode ajudar os alunos a desenvolver uma mentalidade de crescimento, mostrando que o esforço vale a pena.»

Rato, J. & Castro Caldas, A. (2017). Quando o Cérebro do seu Filho vai à Escola (pp. 128-9). Lisboa: Verso de Kapa.

Conclusão (ou, melhor, moral da história):

1. A nota máxima daquele teste acabou ser 4 (a professora não errou por muito!), apesar de ser habitualmente 5, por ação dos bons professores de língua portuguesa que este grupo de alunos tem tido e pela sua, até agora, grande disponibilidade e alegria para aprender.

2. O conhecimento, felizmente, avança e, por isso, há que o ir incorporando na ação dos educadores profissionais, sob pena, naturalmente, de o deixarem de ser!

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