Até as bactérias colaboram…!

«Na dinâmica social complexa que criam, muito embora desprovidas de mente, as bactérias colaboram com outras bactérias (…). E na sua existência desprovida de mente elas chegam a assumir aquilo que só poderemos chamar “atitude moral”. Os elementos mais próximos do seu grupo social, a sua família, por assim dizer, são mutuamente identificáveis pelas moléculas de superfície que produzem ou pelas substâncias químicas que segregam, as quais, por sua vez, estão relacionadas com os genomas individuais. No entanto, os grupos de bactérias têm de lidar com a adversidade do seu ambiente e, com frequência, de competir com outros grupos para obter território e recursos. Para que um grupo seja bem-sucedido, os seus elementos têm de colaborar. Aquilo que pode acontecer durante o esforço de grupo é fascinante. Quando as bactérias detetam “desertores” no grupo, ou seja, quando certos membros não ajudam no esforço de defesa, elas isolam-nos, mesmo que estejam genomicamente relacionados e façam parte da mesma família. As bactérias não colaboram com bactérias da “família” que não ajudam o grupo, rejeitam as bactérias vira-casacas que não colaboram. Não obstante, as bactérias que não colaboram acedem aos recursos energéticos e à defesa que o resto do grupo providencia a grande custo, pelo menos durante algum tempo.»

Damásio, A. (2017). A Estranha Ordem das Coisas. A vida, os sentimentos e as culturas humanas (p. 36). Lisboa: Círculo de Leitores.

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