Vale a pena apostar nos professores

Dados preocupantes do último relatório do Conselho Nacional de Educação são, entre outros, a elevada e precoce taxa de retenção, que atinge sobretudo os mais desfavorecidos, o excesso de aulas expositivas, com implicações na indisciplina crescente, e o envelhecimento da profissão docente, com ingressos muito diminutos, nas próximas duas décadas, de novos professores no sistema, devido à baixa taxa de natalidade.

Além da necessidade de pensar na resolução do macroproblema da baixa taxa de natalidade, há que pensar, já, o que fazer com o problema do envelhecimento dos professores, cujas metodologias, tantas vezes desatualizadas, aliadas a uma atitude conservadora perante o ensino e a aprendizagem, poderão estar na origem do crescente (e já dificilmente disfarçável) enfado e desinteresse generalizado dos alunos, da consequente indisciplina e das retenções excessivas, que, além de punirem severa e irracionalmente crianças e jovens, nos prejudicam a todos enquanto sociedade. Há, naturalmente, outros fatores, mas sabemos que o professor faz a diferença, por isso há que atacar este fator, apesar de tudo mais facilmente manipulável.

Parece-me que a solução nunca é a de esperar que os professores mais velhos vão saindo do sistema, para depois, pela entrada de novos professores, com formação mais atualizada e robustecida, incrementar a qualidade do ensino e das aprendizagens. Esta era a solução irresponsável e simploriamente pragmática do anterior Ministro da Educação, Nuno Crato! Não, as crianças e jovens que frequentarem as escolas portuguesas nas próximas duas décadas merecem uma educação de qualidade. O imperativo ético do direito à educação não exige apenas o acesso a uma qualquer educação; exige o acesso a uma educação de qualidade, à melhor educação que se conheça e seja possível.

Assim, defendo que terá que se apostar muito seriamente numa formação continuada dos professores, de elevada qualidade, arreigada na experiência coletiva das comunidades educativas, mas também nos conhecimentos recentemente produzidos pelas várias Ciências que se têm dedicado ao fenómeno educativo, da Sociologia e da História à Psicologia Cognitiva e às Neurociências. Se levarmos a sério a formação contínua, focalizada nos problemas de cada escola e nas necessidades dos seus professores, certamente que os alunos aprenderão mais e melhor, a sociedade terá, por isso, melhores cidadãos, trabalhadores mais qualificados e líderes mais capazes e os próprios professores sentir-se-ão mais realizados profissionalmente e, portanto, mais felizes.

Vale a pena apostar nos professores e na sua requalificação. Tem é que ser agora – em 2030 será tarde!

Fotografia: L'Ecolier seul (1956), Robert Noisneau.

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