Manuel Vicente e “a pilhagem de Angola”

«A tarefa de transformar a indústria do Petróleo de Angola, que era dedicada ao orçamento de guerra, numa máquina para o enriquecimento da elite de Angola em tempo de paz recaiu sobre um homem baixo e forte, de cara redonda, sorriso vencedor e bigode aparado, chamado Manuel Vicente. (…) Em 1999, quando a guerra entrou nas suas movimentações finais, o presidente nomeou-o para dirigir a Sonangol (…).

Vicente tornou a Sonangol numa empresa formidável. Conduziu negociações duras com os gigantes do petróleo que gastaram dezenas de milhares de milhões de dólares no desenvolvimento das plataformas petrolíferas de Angola, entre eles a BP, do Reino Unido, e a Chevron e a ExxonMobil, dos Estados Unidos. Apesar das negociações duras, Angola encantou os gigantes e os seus executivos respeitavam Vicente. “Angola é para nós uma terra de sucesso”, disse Jacques Marraud des Grottes, responsável pela exploração e produção africana da francesa Total, que extraiu mais petróleo do país do que qualquer outra empresa.

(…) Em 2011, as receitas de $34 mil milhões da Sonangol rivalizavam com as da Amazon ou da Coca-Cola.

O petróleo é responsável por 98 por cento das exportações de Angola e cerca de três quartos do rendimento do governo. É também o sustento do Futungo [nome dado a algumas centenas de famílias, por causa do Futungo de Belas, o velho palácio presidencial]. Quando o Fundo Monetário Internacional examinou as contas nacionais de Angola, em 2011, descobriu que entre 2007 e 2010 desapareceram $ 32 mil milhões, uma soma maior do que o Produto Interno Bruto de 43 países africanos e equivalente a um em cada quatro dólares que a economia angolana gera anualmente. A maior parte do dinheiro em falta podia ser imputada a despesas não registadas da Sonangol; $4,2 mil milhões ficaram completamente por justificar.

Tendo expandido a máquina de pilhagem do Futungo, Manuel Vicente ascendeu ao círculo íntimo. Sendo já membro do comité central do MPLA, esteve durante pouco tempo num posto especial como responsável pela coordenação económica antes de ser nomeado vice-presidente de José Eduardo dos Santos, nunca deixando o seu papel como o Sr. Petróleo de Angola. Trocou a sede da Sonangol, na baixa, pelas vivendas à sombra das acácias da cidade alta, o enclave no alto da colina construído pelos colonizadores portugueses que hoje é o centro nevrálgico do Futungo.»

Burgis, T. (2015). A Pilhagem de África (pp. 27-29). Rio Tinto: Vogais.

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