Para melhores aprendizagens – melhor ensino e melhor carreira docente

Sabemos hoje que a escola precisa de fazer mudanças, algumas delas disruptivas. (Em muitos casos, as mudanças evolutivas não acompanham as necessidades.) Tendo em conta o conhecimento atual sobre como funciona o fenómeno da aprendizagem e as necessidades do mundo de hoje, os alunos precisam de aprender conhecimentos e, sobretudo, competências mais ajustadas e, certamente, precisam de aprender melhor, de modo mais estimulante e motivador e de forma mais efetiva e significativa. Para tal, os professores precisam de ensinar, em muitos casos, provavelmente menos e, tantas vezes, ensinar e avaliar melhor.
Para que esta mudança seja uma realidade são necessárias, substancialmente, duas coisas: o incremento do desenvolvimento profissional dos professores e uma carreira atrativa e que reconheça e potencie o mérito. (Deixo aqui de fora a problemática da necessidade de um certo “emagrecimento curricular”, ajustado às aprendizagens hoje necessárias, mas sem perder as aprendizagens sempre necessárias.)
A este propósito, defendo:
- uma progressão na carreira baseada no desempenho de elevada qualidade (e não apenas em tempo de serviço) – por ser difícil de avaliar tal desempenho, não quer dizer que seja impossível, que não é, pois há já conhecimento, boas práticas e muitos modelos espalhados por esse mundo fora; o modelo seguido atualmente em Portugal não é completamente mau, mas requer (re)conhecimento e execução profissional. No relatório da OCDE, de 2009, sobre avaliação de professores em Portugal, lê-se: «The task now for Portugal is to develop the roadmap and timeline for managing the transition to a more robust model for career progression, while consolidating the use of developmental evaluation for teachers within the schools that includes classroom observation for all teachers and rich qualitative feedback.» (p. 3);
- uma supervisão colaborativa e uma avaliação docente a pensar no incremento do desenvolvimento profissional (e não para cumprir formalidades burocráticas e, muito menos, para travar arbitrariamente progressões dos “inimigos” ou atribuir “muito bom” aos “amigos”!) No mesmo relatório da OCDE: «The review team found a high degree of general consensus among the teaching profession that meaningful teacher evaluation is indispensable» (p. 3);
- e uma formação contínua que parta das necessidades de cada escola e dos seus professores, mas que se basei em conhecimento educacional científico atualizado e que potencie, efetivamente, melhores aprendizagens para os alunos (tem que acabar, por marginal que seja, o assinar folhas de presença em “ações de formação” light a pensar só nos créditos!).

É claro que têm que ser os professores os primeiros a reconhecer, com presciência sapiencial e apaixonado sentido de responsabilidade, que estas mudanças (entre outras) contribuirão para o incremento da qualidade do ensino e das aprendizagens ajustadas e, concomitantemente, para o devido reconhecimento público da profissão docente. Mas isso não invalida, desde já – antes pelo contrário, implica necessariamente –, políticas sérias, estruturais e, portanto, duradouras de reabilitação da atratividade e reconhecimento da importância transcendente da profissão docente.

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