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"Europa", consorte de Zeus |
«No estado atual da construção europeia, a
ausência de uma identidade cívica europeia arrisca-se a conduzir, na prática, à
definição de um “nós” europeu assente numa ordem social enquanto bem comum
definido em termos de prosperidade (welfare)
e em termos de segurança, mais propensos à exclusão, com base em critérios
étnicos e religiosos, que à inclusão. As discussões acerca do alargamento da
Europa, cujos critérios não estão claramente definidos, assim como as
discussões acerca da imigração, que lhe merecem, a essa mesma Europa, a
reputação de “fortaleza”, estão na origem da imagem de um espaço unificado –
talvez mesmo a única imagem de uma Europa unida. E mais ainda quando nos
referimos a “um conflito de civilizações” relativamente ao Islão, considerado
como ameaça exterior, que é uma maneira de exclui as populações muçulmanas
instaladas na Europa (R. Leveau). É o que, na visão de Rémy Leveau, contribui para
“redefinir a um tempo uma fronteira interna e externa supostamente
intransponível por razões culturais”. Isro poderia traduzir-se pela rejeição
das populações imigrantes que se constituem em diásporas vinculadas a solidariedades
exteriores, nomeadamente com os países de origem, como os do Magrebe ou da
Turquia. Semelhante mecanismo de definição de uma identidade europeia coloca a
questão da universalidade, tal como a do pluralismo cultural, que não pode ser
excluída do projeto político da sua construção.
Incontestavelmente, a construção europeia
assenta na combinação do uno com o múltiplo.»
Kastoryano, R, (2004). “Multiculturalismo. Uma
identidade para a Europa?” (p. 35), in: Riva Kastoryano (org.). Que Identidade para a Europa? Lisboa:
Ulisseia.
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