A representação construída (destrutiva) dos ciganos
Os estereótipos de cigano |
«Os ciganos entraram na
Europa através dos Balcãs na Idade Média, chegando à Alemanha no séc. XV e a
Inglaterra no início do séc. XVI. Acreditava-se que vinham do Egito, mas a análise
linguística do séc. XVIII apontou para a origem na Índia. As primeiras
descrições que surgem destacam o estilo de vida nómada, catalogando-os como
vagabundos – Eneia Silvio Piccolomini (o Papa Pio II) considerava-os “piratas
terrestres”. Eram vistos como escuros ou negros, embora com o tempo se tenha
reconhecido que a cor da pele tinha muito a ver com a quantidade de tempo
passada ao ar livre. Em alguns relatos eram descritos como bons artesãos,
trabalhando como sapateiros, remendões e fiandeiros. Também lidavam com o
comércio de cavalos. No Império Otomano ganhavam a vida, acima de tudo, como
metalúrgicos, mas também como músicos, barbeiros, mensageiros e executores. No
entanto, em breve foram visados na Europa como adivinhos, feiticeiros, ladrões
e espiões. Os principais personagens estereotipados de ciganos na literatura
(especialmente nos trabalhos de Gil Vicente e de Cervantes) eram quiromantes ou
adivinhos, sendo também os ciganos representados desta forma por Ticiano,
Benvenuto Garofalo, Correggio e Pieter Brueghel, o Velho.
As primeiras décadas de
receção relativamente afáveis dos ciganos basearam-se na suposição de que se
encontravam numa peregrinação de sete anos para expiar os seus pecados.
Começaram então a receber esmolas e salvo-condutos. Posteriormente
desenvolveu-se um clima de rejeição e expulsão. (…) A repressão manteve-se em
vários países ao longo dos séculos XVII e XVIII, especificamente em França e na
Alemanha. A aprovação de leis sucessivas revela a dificuldade na sua
implementação.
(…) Na Europa, os ciganos
eram, de um modo geral, encarados como vagabundos, sendo-lhes atribuído o estatuto
de parasitas, supostamente transmissores de peste ou de sífilis, e que se
dedicavam ao rapto de crianças e até mesmo ao canibalismo.»
Bethencourt,
F. (2015). Racismos. Das cruzadas ao
século XX (pp. 212-3). Lisboa: Temas e Debates.
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