Coimbra, alterações climáticas, o PAN… e a verdade dos factos sobre a relação Homem-Natureza! (2)
«A Revolução
Industrial abriu novos caminhos para converter energia e produzir bens,
libertando, em grande medida, a humanidade da sua dependência do ecossistema
envolvente. Os seres humanos derrubaram florestas, drenaram rios, inundara,
planícies, assentaram dezena de milhares de quilómetros de vias férreas e
construíram metrópoles de arranha-céus. À medida que o mundo era moldado para
se adequar às necessidades do Homo sapiens,
os habitats foram sendo destruídos e as espécies extinguindo-se. O nosso
planeta, outrora verde e azul, está a transformar-se num centro comercial de
betão e plástico.
Hoje em dia, os
continentes da Terra são o lar de quase sete mil milhões de sapiens. Se pegasse em todas estas
pessoas e as colocasse numa balança gigantesca, a sua massa combinada seria
cerca de 300 milhões de toneladas. Se em seguida pegasse em todos os nossos
animais de quinta domesticados – vacas, porcos, ovelhas e galinhas – e os
colocasse num abalança ainda maior, a sua massa combinada seria cerca de 700
milhões de toneladas. Se, por outro lado, juntasse todos os animais selvagens
ainda existentes – dos porcos-espinhos e pinguins aos elefantes e baleias –, a
sua massa combinada seria inferior a 100 milhões de toneladas. Os livros das
nossas crianças, a nossa iconografia e os ecrãs das televisões ainda estão
repletos de girafas, lobos e chimpanzés, mas, no mundo real, restam muito
poucos. Existem menos do que 80 000 girafas, mas 1,5 milhares de milhões
de cabeças de gado; apenas 200 000 lobos cinzentos, mas 400 milhões de
cães domésticos; apenas 250 000 chimpanzés, mas milhares de milhões de
seres humanos. A humanidade tomou, de facto, o mundo.
Degradação
ecológica não é o mesmo que escassez de recursos. (…) Os recursos à disposição
da humanidade estão constantemente a aumentar e é provável que tal continue a
acontecer. É por isso que as profecias do Juízo Final, relacionadas com a
escassez de recursos, talvez estejam mal formuladas. Pelo contrário, o receio
de degradação ecológica está muitíssimo bem fundamentado. De futuro, poderemos
ver os sapiens a obterem o controlo
de uma cornucópia de novos materiais e recursos energéticos, ao mesmo tempo que
destroem o que resta do habitat natural e impelem quase todas as outras
espécies para a extinção.
De facto, o
tumulto ecológico pode por em risco a própria sobrevivência do Homo sapiens. O aquecimento global, a subida
do nível dos oceanos e a poluição generalizada podem tornar a Terra menos
hospitaleira para a nossa espécie e o futuro poe, como tal, testemunhar uma
corrida em espiral entre o poder humano e os desastres naturais provocados pelo
homem. À medida que vão usando o seu poder para se oporem às forças da natureza
e subjugarem o ecossistema às suas necessidades e caprichos, os seres humanos
podem ser capazes de provocar efeitos secundários cada vez mais imprevistos e
perigosos. É provável que estes só possam ser controlados através de
manipulações ainda mais dramáticas do ecossistema, o que resultará num caos
ainda maior.»
Harari, Y. N.
(2019, 19ª ed.). Sapiens. História breve
da humanidade (pp. 411-2).
Amadora: Elsinore.
Comentários
Enviar um comentário