Comer carne de vaca, viajar de avião e alterações climáticas
Na Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro decorreu um
Congresso para explicar à população em geral que a diabolização da carne de
vaca é demagógica e que há outras causas para as alterações climáticas. É
verdade. Mas cuidado, por exemplo, com a simplificação da crítica ao Reitor da
Universidade de Coimbra, pois, ao contrário do que superficialmente se tem
avançado, a abolição de carne de vaca das ementas das cantinas não é a única
medida a ser tomada por aquela instituição de elevada responsabilidade
ético-social: estão previstas também a reciclagem,
o reordenamento do tráfego e uma diminuição do uso de combustíveis fósseis. O
tráfego naquela universidade é, há muito, um grave problema, pois os
transportes públicos não são eficazes devido ao elevado número de automóveis
particulares que circulam nas imediações e na própria vetusta e sapiente
instituição. Gostaria de ver também abolido o trânsito de automóveis
particulares e que a circulação de transportes públicos movidos a energia não
poluente fosse uma realidade eficaz!
De facto, a crise do clima não se reduz a um fator isolado. A
abordagem simplista da questão é que gera mal-entendidos e é, por isso,
altamente demagógica. As alterações climáticas e as alterações no nosso estilo
de vida que o seu combate implica, exigem uma abordagem holística.
A criação de gado é uma das atividades ecologicamente mais negativas.
Para produzir 1kg de carne de vaca são necessários 9 kg de feno e para produzir
9 kg de feno são necessários 900 litros de água. Portanto, a criação de gado em
geral, e a produção de carne de vaca em particular, são atividades altamente
consumidoras de água e como a água é um bem escasso, estas são atividades, por
esta via, ecologicamente muito negativas. A carne de vaca é, pois, sem dúvida,
altamente carbonizada, pois requer muita água e muita energia.
Por outro lado, a criação de gado liberta gases de efeito de
estufa. Da digestão do feno que ingerem, as vacas libertam metano e este gás é
25 vezes mais potente na retenção de calor, que o dióxido de carbono. Assim, as
vacas são altamente nocivas para o efeito de estufa. O sistema alimentar e a produção
agrícola representam entre 20% a 30% das emissões de gases de efeito de estufa.
Na Nova Zelândia – grande produtor de carne de vaca – está a
ser testada uma vacina para neutralizar a libertação de metano da digestão
daqueles animais. As vacas recebem uma vacina contra certos micróbios
intestinais responsáveis pela produção de metano à medida que digerem os seus
alimentos.
Mas há outras atividades altamente carbonizadas, como as relacionadas
com os transportes, como é o caso das viagens de avião, máquina voadora tão
eficaz quão mega-poluente! Estima-se que as viagens de avião representem cerca
de 10% dos gases de efeitos de estufa. Por esta via, o turismo – atividade
humana de excecional valor intercultural e económico – pode ser uma das
atividades mais nocivas para as alterações climáticas.
Portanto, isto significa que não vale a pena deixar de comer
carne de vaca e continuar a viajar de avião, nem deixar de viajar de avião, mas
continuar a comer regularmente um belo bife! Quer com mais congressos corporativos
ou mais medidas supostamente demagógicas, o que está em causa é uma alteração
consciente, informada, mas sistémica e aprofundada do nosso próprio estilo de
vida, que, irremediavelmente, terá de mudar radicalmente e a breve trecho. Se
começar nas escolas e nas universidades terá mais garantia de sucesso.
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