Como funciona o fascismo


«Os políticos fascistas justificam as suas ideias destruindo um sentido comum de história através da criação de um passado mítico para apoiar a visão que têm para o presente. Reescrevem o entendimento partilhado que a população tem da realidade, deturpando a linguagem dos ideais através da propaganda e fomentando o anti-intelectualismo, atacando universidades e sistemas de educativos que possam desafiar as suas ideias. Eventualmente, recorrendo a estas técnicas, a política fascista cria um estado de irrealidade, no qual as teorias da conspiração e as
fake news substituem o debate bem fundamentado.

À medida que o entendimento comum da realidade se desmorona, a política fascista cria espaço para o enraizamento de crenças falsas e perigosas. Primeiro, a ideologia fascista procura neutralizar a diferença entre grupos, dando assim a aparência de apoio natural e científico para uma hierarquia de mérito humano. Quando as classificações e divisões sociais se consolidam, o medo substitui o entendimento entre grupos, e qualquer processo em prol de um grupo minoritário alimenta sentimentos de vitimização entre a população dominante. A política de lei e ordem é atrativa para as massas, dado a “nós” o papel de cidadãos legítimos e a “eles”, em contrapartida, o papel de criminosos sem lei, cujo comportamento constitui uma ameaça existencial à virilidade da nação. A ansiedade sexual é igualmente típica da política fascista, uma vez que a hierarquia patriarcal é a ameaçada pela crescente equidade entre géneros.

À medida que o medo do “eles” aumenta, o “nós” passa a representar tudo o que é virtuoso. “Nós” vivemos no interior rural, onde os valores e tradições puros da nação ainda existem milagrosamente, apesar da ameaça do cosmopolitismo das cidades da nação, a par das hordas de minorias que aí vivem, encorajadas pela tolerância liberal. “Nós” somos trabalhadores, e conquistámos o nosso lugar de destaque através do esforço e do mérito. “Eles” são indolentes, sobrevivem a expensas dos bens que nós produzimos, explorando a generosidade dos nossos sistemas de proteção social, ou utilizando instituições corruptas, como os sindicatos, com o intuito de afastar os cidadãos honestos e arduamente trabalhadores do seu salário. “Nós” somos empreendedores, “eles” são aproveitadores.»

Stanley, J. (2019). Como Funciona o Fascismo. A política do nós e eles (págs. 11-13). Amadora: Vogais Editora.

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