Os vencedores à beira de um ataque de nervos ou o dinheiro não é tudo!


 «Os pais ricos podem dar aos seus filhos um forte impulso na sua tentativa de serem admitidos nas universidades [americanas] de elite, mas, muitas vezes, à custa de transforem os anos de liceu num martírio: grande stresse, ansiedade e privação de sono, horário preenchido com cursos de nível avançado, explicações de preparação para o SAT, formação desportiva, aulas de dança e de música, e uma miríade de atividades extracurriculares e de voluntariado, muitas vezes sob orientação e tutela de conselheiros privados de admissão, cujos honorários podem custar mais do que quatro anos de propinas em Yale. (...)

Esta corrida ao armamento meritocrático inclina a balança da competição a favor dos ricos e permite que os pais abastados transmitam os seus privilégios à sua prole. Esta formas de transmitir privilégios é duplamente censurável. É injusta paras aqueles que não dispõem destas vantagens e é opressiva para os jovens que ficam enredados nesta teia de vantagens. A luta meritocrática dá azo a uma cultura parental de intromissão, orientada para o sucesso e intrusiva, que é malsã para os adolescentes.. A proliferação dos chamados "pais helicóptero" tem coincido com as décadas em que a competição meritocrática se tornou mais intensa. (...)

(...) No início da década de 2000, Madeleine Levine, uma psicóloga que trata jovens no condado de Marin, um abastado subúrbio de São Francisco, começou a notar que muitos jovens aparentemente bem sucedidos de famílias ricas eram muito infelizes, desconectados e pouco independentes. "Basta arranhar a superfície para se ver que muitos deles estão (...) deprimidos, ansiosos e zangados (...). Dependem em demasia da opinião dos pais, de professores, de treinadores, e seus pares e, muitas vezes, recorrem aos outros, não só para lhes facilitar a resolução de tarefas difíceis, mas também para lhes untarem as engrenagens da ida quotidiana". Apercebeu-se gradualmente de que estes jovens eram vítimas da riqueza e do elevado nível de interferência dos seus pais, que em vez de os proteger das dificuldades da vida contribuíram antes para a sua infelicidade e fragilidade.

(...) Os psicólogos sempre tinham assumido que os jovens "em situação de risco" eram jovens desfavorecidos de bairros degradados que viviam "em condições duras e impiedosas". Sem negar esta situação problemática, Levine observou, contudo, que o novo grupo de risco dos Estados Unidos eram adolescentes de famílias abastadas e com elevado nível de instrução.

O que explica o nível excecionalmente elevado de stresse emocional entre os jovens das famílias bastadas? A resposta tem muito que ver com o imperativo meritocrático: a implacável pressão para ter um bom desempenho, alcançar o sucesso, triunfar.»

Sandel, M. J. (2022). A Tirania do Mérito. O que aconteceu ao bem comum (pp. 209, 211 e 212). Lisboa: Ed. Presença.

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