A lotaria improdutiva do setor financeiro

 


«Tendo crescido enormemente nas últimas décadas, o setor financeiro desempenha hoje um papel importante nas economias avançadas. Nos Estados Unidos, a sua percentagem do PIB quase triplicou desde a década de 1950 e, em 2008, foi responsável por mais de 30% dos lucros das empresas. Os seus empregados receberam 70% mais do que trabalhadores comparativamente qualificados de outras indústrias.

Isto não seria um problema se todas estas atividades financeiras fossem produtivas e aumentassem a capacidade da economia para produzir bens e serviços. Mas não é esse o caso. As finanças em si não são produtivas. O seu pape, é facilitar a atividade económica através da afetação de capital a atividades socialmente úteis, como novos negócios, fábricas, estradas, aeroportos, escolas, clínicas, habitação. Mas embora as finanças como parte da economia dos Estados Unidos tenham explodido nas últimas décadas, cada vez menos capital tem sido investido na economia real. Em vez disso, um aparte crescente foi canalizada para complexas técnicas de engenharia financeira que são muito rentáveis para quem está envolvido, mas que nada fazem para tornar a economia mais produtiva.

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(...) Quando as empresas utilizam os lucros para comprar ações em vez de investirem em investigação e desenvolvimento, ou em novo equipamento, os acionistas saem a ganhar, mas as capacidades produtivas daas empresas não.

Em 1984, quando a financeirização começou a levantar voo, James Tobin, o ilustre economistas de Yale fez um aviso clarividente contra a transformação "dos nossos mercados financeiros em casinos de apostas". Preocupava-o o facto de "estarmos a desperdiçar uma quantidade cada vez maior dos nossos recursos, incluindo a nata da nossa juventude, em atividades financeiras que estão muito afastadas da produção de bens e serviços, em atividades que geram altas recompensas privadas sem a correspondente produtividade social".

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Uma possibilidade radical seria reduzir ou eliminar os impostos sobre os salários e aumentar as receitas fiscais através da tributação do consumo, da riqueza e das transações financeiras. Um passo modesto nesta direção seria uma redução dos impostos sobre os salários (que aumentam o custo do trabalho tanto para empregadores como para empregados) e compensar as receitas perdidas por via de um imposto sobre transações financeiras de alta frequência, que pouco contribuem para a economia real.»

Sandel, M. J. (2022). A Tirania do Mérito. O que aconteceu ao bem comum (pp. 253-4, 255, 256). Lisboa: Ed. Presença.

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