A tirania das emoções face à razão


«Para que a vida humana não fosse totalmente triste e enfadonha, Júpiter concedeu-lhes muito mais paixões do que razão (...). Além disso, relegou a razão para um canto estreito da cabeça, deixando todo o resto do corpo entregue ao domínio das paixões. Por fim, opôs à razão isolada a violência de dois tiranos: a Cólera, que domina a cidadela do peito, com a fonte da vida, o coração, e a Concupiscência, cujo império se estende até ao baixo-ventre. Como conseguirá a razão defender-se destes dois inimigos, para mais reunidos? A vida comum dos homens mostra-o coim bastante clareza. A razão apenas consegue gritar, até enlouquecer, as leis da honestidade. É rainha de quem os homens troçam e injuriam até que, cansada, se cala e se confessa vencida.»

Erasmo de Roterdão (1973). Elogio da Loucura. Mem Martins: Publicações Europa-América.

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