Por que direitos os Negros devem continuar a lutar?


«(...) Por que direitos os Negros devem continuar a lutar? Dependerá do lugar em que se encontam, do contexto histórico em que vivem e das condições objetivas de que dispõem. Tudo dependerá também da natureza das formações raciais nas quais são classificados, quer como minorias históricas cuja presença não se contesta mas cuja pertença integral à nação continua ambígua (caso dos Estados Unidos); quer como minorias que escolhemos não ver, nem reconhecer, nem escutar enquanto tais (caso da França); ou então como uma maioria demográfica com poder político mas relativamente desprovida de poder económico (caso da África do Sul). Mas quaisquer que sejam os lugares, as épocas e  os contextos, o horizonte destas lutas continua a ser o modo de pertença de pleno direito ao mundo que nos é comum. Como passar do estatuto de "sem parte" ao de "ter direitos"?Como participar na estrutura deste mundo e na sua divisão por todos? Enquanto não se puser fim à funesta ideia de desigualdade das raças e da seleção entre diferentes espécies humanas, a luta das gentes de origem africana por aquilo a que podemos chamar "igualdade de partes" - continuará a ser uma luta legítima. Para tal, tem, no entanto, de ser conduzida não com o objetivo de se separar de outros seres humanos, mas, em solidariedade com a própria humanidade - esforçando-se, através da luta, por reconciliar os diversos rostos da Humanidade. No melhor das nossas tradições, a luta sempre teve como meta a abertura para um mundo verdadeiramente comum, a possível epifania das nações

Mbembe, A. (2017, 2ª ed). Crítica da Razão Negra (pág. 294-5). Lisboa: Antígona.

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